Comunicar-se no barulho urbano
Apontamentos sobre as novas consecuências do espectáculo hipertrofiado
antipanfleto

Nas urbes galegas assistimos ao esplendor (por dize-lo assí) da primeira geraçom do ruido. Umha geraçom que se tem educado e formado no seio dumha ingente acumulaçom cultural. A geraçom dos frikis consumistas e das pastilhas contra a ansiedade. Da ciber-vida diante da pantalha. E também a geraçom de militantes hiper-formados pero incapaces de acometer nengumha açom real sobre o mundo que lhes arrodeia... A posmodernidade e o seu síndrome inmobilista passa por riba até do mais ortodoxo. A apertura infinita de frentes pra a nossa atençom, o ruido, a acumulaçom de possibilidades que se voltam impossíveis; inhibe à praxe e distância-nos da experiência. Extende as patologias da percepçom e a atençom e a falta de confiança na própria capacidade de agir. E sem experiência, toda teoria é falaz; e sem teoria, nom hai volta à praxe.

Hoje, dizemos, um enorme barulho condiciona a nossa existência cotiá. O cruçe de altofalantes dos vendedores gera um ruido publicitário e mediático. Pero também cultural, e incluso contracultural, antisistema. Mil e um possíveis estilos, tendências enfrontadas, patrons de consumo que se disputam o trono... apresentam-se-nos como possíveis. E os mecanismos cognitivos da atençom, da gestom da percepçom e o pensamento, ao ter sido educados nesse mundo-catálogo, rematam por administrar do mesmo jeito os discursos (conjuntos estructurados de valores éticos), que depois da estética som o seguinte objectivo a ser baleirado de contido pola sociedade da mercadoria. A identidade está consituida polos bens de consumo que adquiras, e nada mais. Paradigmático o caso do activismo de camisola. A roupa di muito da gente (ou tudo o que pode dizer...) porque a gente já nom di nada. As mercadorias rematam por comunicar-se entre si, outorgando às mensagens novos significados em tanto que mercadorias, e já nom em tanto que mensagens com significados humanos. Penetrando inclusso no mundo da contestaçom ao seu império e instituindo-se como o auténtico sujeito social até na nossa pequena fenda dissidente.

Ninguem agarda nada de ninguem. Ninguem pretende conservar nem reformar nada. As palavras cámbiam de significado no momento no que o conservadurismo é substituido pola inércia do nihilismo passivo. O ser humano já nom tem problemas –dim– é em si mesmo o problema. Uns só agardam resentidos a que caia, outros consumem e os outros só querem ser robots... e alguns fam tudo à vez. E nom podemos já falar como antes... Essa ausência de defensa de nada (nem do existente, por nom haver nom hai nem conservador*s...) é o auténtico caldo de cultivo perfeito pra a extensom do domínio das diversas formas de disciplina que a mercadoria, da mao do Estado, exerce sobre nós. Claro, se a mercadoria é o nosso organizador social, nada pode ser milhor pra ela que umha sociedade tam inconsciente que se nega até a defende-la. Assí, deixamos-lhe realmente fazer às suas anchas.

O espectáculo levado ao nível mais micro subsitue à nossa própria memória (à individual, e já nom só à histórica) convertindo-nos numha sorte de ciborgs dependentes da técnica. E novamente repite-se: o que aparece, existe; o que existe, aparece. O espectáculo, entom, capilariza-se coa ajuda da técnica mercantil: cámaras, carros, mp3, móbiles, pantalhas e mais pantalhas, blogues e fotologues em internet, chats... som as novas ferramentas que nos distanciam da experiência, à vez que nos tornam mais dependentes. O espectáculo atinge assí o seu máximo grau de descentralizaçom, assumindo sem problemas o patrom da rede; e adoitando umha política de terra queimada que fai estoupar em chamas a nossa experiência cotiá, abrindo assí capilarmente o caminho pra que a lógica da mercadoria inunde a nossa vida até o nível mais íntimo. Assistes sentado vendo como passa a tua vida por diante de ti, sem poder fazer nada pra agir sobre ela. Já nom escuitas música, isolas-te e habituas-te a prescindir do entorno quando caminhas só(a) (indefens@?) pola rua. Escreves sobre algo –da igual que– agardando a promessa do triunfo, só agardando que alguem o lea, sentir de perto essa “sociedade da comunicaçom” da que falam no telejornal...

A comunicaçom adoece assí na era da comunicaçom. Volta-se paradoxicamente mais ilussória do que nunca antes. A tecnologia permete umha comunicaçom do objectivo. Do que se pode razonar. A comunicaçom do subjectivo nom pode ser atrapada em ningum méio na sua totalidade. É absoluta tam só no momento da presença física, que fomenta a empatia. Por todos os outros méios, volta-se ilusória.

Por todas partes, e particularmente desde a ascensom de internet, proliferam os discursos, as vissons da realidade, a apologia de modos de vida inventados e na prática indiferenciáveis do dominante (porque som falsos, a ética reducida a estética). A descentralizaçom da capacidade de comunicar, dos médios, longe de artelhar umha informaçom responsável e crítica por parte do sujeito informado, potencia a cultura do “entretemento”. Ninguem quere saber nada. Só era por divertir-se um pouco... Claro, como tudo o demais é gris, por que cambia-lo (se “nom podo, nom podo, nom podo, nom podo...”)? Milhor tratar de entreter-se. E ao nom consegui-lo: dependência. Cada um cre que é @ únic@ que nom consigue atopar-lhe a graça... Quando o poder abriu a mao em algo com potencial transformador como é a descentralizaçom da comunicaçom, é porque já nom existe esse potencial (nom infravaloremos o poder de auto-organizaçom da mercadoria). Porque a inmobilidade é maior, a vontade de busca está adocenada polo ruido, pola sempre presente ilussom das mil milhons de possibilidades que temos no catálogo de IKEA. Assí a “alienaçom” vai um passo por diante nossa. Ou isso ou em realidade somos tam inteligentes como as bactérias, e tudo o demais era só umha ilussom... e isto é o que prefirem pensar a maioria dos que se crem inteligentes, crendo demostrar assí que o som –e de passo a sua cobardia e baixeza moral.

Outra consecuência do ruido é a ilussória percepçom da realidade social como mais complexa do que é. E nom é que nom o seja. Explico-me: trata-se dumha certa sensaçom que se extende e que disuade tudo intento de comprender essa realidade. Tudo semelha tam complexo (desde a distância), e estás tam fart@ de nom entender nada, que nom queres escuitar a ninguem (e menos a esses que “escriben en portugués”... que devem ser @s mais perdid@s de tod@s). O ruido favorece assí a apisonadora do pensamento único, da ausência de contestaçom.

Pois bem, que nós aportemos outro altofalante co nosso descurso (o qual é bem diferente dumha publicaçom de reflexom colectiva, coma esta) nom contribue já mais a fomentar o critério próprio apontando modestamente umha alternativa. Só serve pra alimentar o ruido, e isso volta-se finalmente contra nós. Tentamos comunicar-nos cumha audiência adoutrinada no espectáculo, que só sabe tragar. Que já nom só nom pode criar, senom que nem sequer pode escolher o que receve, porque isso agora se escolhe só. Nom é útil tentar captar a atençom dumha audiência hiper-estimulada usando os médios habituais. Nom estamos em igualdade de condiçons (e nom só pola asimetria de forças, senom por este mesmo problema da percepçom que neutraliza as novas possibilidades de comunicaçom). A açom no campo da comunicaçom social acha-se limitada por este feito. O capital aprendeu a aceitar como cotiá a transgressom dos significados, como um jeito mais de explorar os símbolos cos que comércia. Assí, baleirou todos os significantes. Já nom importa o que digas. É o de menos. Nom podemos seguir mais guiando-nos polo velho paradigma, obcecando-nos coa visibilidade do nosso “produto”. Porque a meirande parte das vezes aquilo que fazemos neste senso tam só serve pra re-afirmar-nos no nosso gueto e distanciar-nos da realidade mentres asentimos coa cabeça mirando-nos aos olhos. Só pode server pra atoparmo-nos tangencialmente com algum/ha que conserva intacta a sua capacidade de percepçom, e que passava de casualidade. Pero a grande maioria som lisiad@s neste senso. Cumha comunicaçom social tradicional dirigimo-nos, portanto, a umha minoria. Isso só re-força o cerco que existe (si, existe) em torno a nós e o nosso discurso, os nossos valores.

Por isso, co objectivo de dirigir-nos às maiorias, tam só faremos algumhas cousas vistosas em quanto à comunicaçom se refire. O ámbito da comunicaçom depende hoje mais da provocaçom que da razom. Também pode ser baleira (a provocaçom), pero é o menos doada de recuperar. Usar as palavras mais lonjanas da recuperaçom mercantil que vai peinando o universo simbólico. Torcer os significados. Jogar a cautivar é hoje mais importante que todos os argumentos (o que nom significa que nom sejam absolutamente necessários, que também tenham que vir inmediatamente depois da provocaçom). Pero a razom e os argumentos estám já fóra de lugar nos processos de comunicaçom social do contexto urbano. Nom é que nos guste. É assí. Provocar, seducir, cautivar, valer-se do “aura romántica”, da curiosidade; abre tristemente mais vias que a verdade. Tudo o que podemos fazer é penetrar no inconsciente colectivo mediante aforismos explossivos mentres afortalamos a praxe dumha alternativa constructiva (que hoje por hoje adoece em benefício dumha esfera comunicativa hipertrofiada).

No ámbito da comunicaçom, portanto, devemos ensaiar formas que bebam mais dumha elaborada estética da provocaçom que do esclarecemento. Apontar face aos tótens gerando mensagens irrecuperáveis, ou o menos recuperáveis possível. Militar no sacrilégio, queimar os piares do discurso dominante. Isto nom é novo no mundo ocidental, pero si o é na sociedade galega. Fai-se necessário, portanto, dizer que tudo isto é aplicável aos entornos urbanos galegos, e que no rural estes fenómenos aínda nom existem; e si podemos operar coas condiçons do mundo precedente. Como segunda precauçom, devemos tratar neste esforço comunicativo de novo género de distanciar-nos das linguagens abstractas, e os tonos de oráculo profético. Trata-se só de pinchar, provocar, incentivar a curiosidade pra que o indivíduo procure. O estilo aforístico salvaguarda-nos disto na medida em que é o que é: sentências curtas, propaganda. Nom pretendemos fazer nem difundir teoria com estas práticas comunicativas. A teoria artelharase em torno à prática real de construçom que vaiamos gestando, sobretudo de portas adentro (aínda que tenha a devida presença pública). Tam só queremos informar de que seguimos aí, e fomentar que se nos busque, pois aquilo que atopa cada qual tem mais valor que o que lhe é dado.

Em segundo lugar, como apontamos, temos que preocupar-nos mais de construir pra adentro (algo abandonado porque nós mesm*s também estamos algo afectadas da doença da percepçom). Nom é um bo momento pra a comunicaçom e temos outras muitas cousas que fazer (que ademais som mais importantes e estám mui de lado). Socializar no nosso núcleo, abrir laços de solidariedade mediante a criaçom colectiva (criaçom em sentido amplo), e sentar as bases dumha sociabilizaçom sem mercadoria.

E por último, fomentar esta mesma criaçom colectiva face ao exterior como jeito de atacar à patologia hiper-espectacular. Estes laços de solidariedade que se estabelecem numha situaçom de criaçom colectiva geram umha comunicaçom genuina, real e nom fictícia coma a que possibilitam as tecnologias espectaculares, e abrem momentaneamente umhas vias de comunicaçom que devemos explorar.

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